70 dias de Alemanha

Estou há tempos sem passar por aqui, mas de vez em quando é bom vir tirar o pó que se acumula, limpar os fenos e ver se a casa está em ordem. E, dessa vez, trago boas novas! Não, não voltarei a viver a Vida Portuguesa, no entanto, vou participar de um programa alemão para jornalistas e viver cerca de 70 dias em Berlin. Para isso, criei um novo blog (e espero que quem gosta de me ler, dê uma passadinha por lá!). De qualquer forma, nos primeiros três dias de viagem, vou dar uma passadinha em Portugal. E, é óbvio, vou para o Porto rever minha terrinha do coração.

O endereço do blog 70 dias de Alemanha é: www.70diasdealemanha.wordpress.com

Espero encontrá-los por lá 🙂

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A crise da Europa no jornal brasuca – parte V

Confesso que demorei a postar sobre a Grécia. Falha minha. Mas como não sou fã de promessas que não garanto 100% que irei cumprir, não vou dizer que essa será a última vez que isso acontece. No entanto, pretendo me esforçar.

Posto hoje, finalmente, a primeira matéria da série de reportagens sobre a crise europeia. A Grécia foi a primeira a ser abordada, até porque, foi quando a crise chegou ao país da Acrópole que o assunto correu o mundo. Até porque, se não estou enganada, a Irlanda já estava com problemas bem antes da Grécia. No entanto, foi no-país-do-idioma-esquisito que a coisa pegou fogo, virou manchete de jornal e repercute até hoje. A Grécia acabou por fim sendo o símbolo da crise na Europa.

A capa do caderno do jornal que publicou as reportagens da série "Europa sob mau tempo". A primeira data de domingo, 5 de fevereiro.

EUROPA SOB MAU TEMPO:

CALOTE NA ACRÓPOLE

As reportagens sobre a crise na Europa foram feitas por jornalistas que vivem nos países em situação mais dramática. Neste domingo, o retrato do cotidiano na Grécia, primeira nação a mostrar que a turbulência iniciada em 2008 nos Estados Unidos iria sacudir a zona do euro

Morar no país mais endividado e enfraquecido da União Europeia não é fácil. É preciso mudar hábitos, adaptar-se e ser otimista para sobreviver. As rigorosas medidas de austeridade impostas pelo governo da Grécia, como aumento de impostos, cortes de salários e demissão de milhares de funcionários públicos, obrigaram os gregos a mudar de estilo de vida.

Se o país de Platão e Aristóteles era conhecido como a região da Europa com as noites mais divertidas, na qual carros de luxo, viagens e estilo de vida caríssimo faziam parte do cotidiano, a situação atual é bem diferente. Porsches Cayenne, que eram mais vendidos na cidade grega de Larissa do que em Londres, estão sendo trocados por automóveis populares. Lojas de marca fecham as portas. Viagens internacionais são trocadas por nacionais, e a diversão em bares, restaurantes e boates migrou às casas de amigos.

A Grécia de 2012 é muito diferente daquela da Olimpíada de 2004, quando os gregos gozavam de salários altos e taxas de desemprego baixas. Hoje, mendigos estão em cada esquina de Atenas. Assaltos são mais frequentes e hábitos simples como tomar café não são mais diários. O Instituto Grego de Estatística explica: com a crise econômica, centenas de negócios fecharam as portas, e o desemprego subiu para 18,2% em outubro.

“O impacto do desemprego é desesperador. Em um ano, aumentou 40% o número de passageiros que não pagam a passagem no metrô. A maioria é de pessoas entre 27 e 35 anos. Fico numa posição difícil, porque tenho de multá-los mesmo sabendo que a maioria é de desempregados e por isso não paga a passagem”, diz Giorgos Xenthanopolous, fiscal do metrô de Atenas.

Giorgos vê como única solução a instalação de barras eletrônicas no lugar das máquinas automáticas. Para a taxista Anastasia Karsanidou, o controle deverá ajudar a conter o calote nas catracas, mas vai prejudicar muita gente.

“Antigamente, táxi ou carro era o meio de transporte mais usado. Com a crise, transporte público é a única opção, alguns nem pagam a passagem por falta de dinheiro mesmo”, diz.

Anastasia também está preocupada com o futuro dos dois filhos e a profissão da família: “Haverá emprego? Voltaremos para o dracma (moeda grega antes do euro)? Meu marido é músico. Estamos em duas profissões de que os gregos se afastaram drasticamente: táxi e diversão.”

Leonidas Vasilopous é um dos universitários gregos que trocaram a diversão por encontros em casa de amigos. “Adoramos ir à taverna, bouzukia (clube grego), mas a crise não permite. Não há dinheiro nem para pagar as contas. Então, nos reunimos em casa. A maioria dos meus amigos está desempregada”, diz Leonidas enquanto entregava jornais, dizendo se considerar sortudo por ter um emprego.

Professores e advogados são os mais afetados

Entre dezenas de profissões, a crise também atingiu drasticamente professores e advogados. Com redução de salários em torno de 300 euros mensais (cerca de R$ 810), professores foram obrigados a se adaptar.

“Tive que mudar para um apartamento menor e cortar teatro e cinema para diminuir as contas mensais. Sempre comprei muitos livros, hoje não é possível”, conta o professor Vasileios Davas.

Davas diz que a crise faz as pessoas se sentirem mais ansiosas e depressivas. Para a advogada Paschalia Petridou, a Grécia passou a ser um país sem futuro.

“Com as novas medidas, não é mais necessário ter advogado para uma série de serviços, como o divórcio. Com isso, nosso trabalho diminuiu drasticamente. Porém, os impostos que pagamos como autônomos aumentaram. Além disso, empresas, como a que trabalho, atrasam meses o pagamento e, se não fosse a ajuda familiar, seria difícil manter o necessário. A situação é tão caótica que no supermercado estamos comprando somente o básico”, desabafa a advogada.

Paschalia ressalta que é difícil viver num país onde, se perder o emprego, não será possível procurar outro, porque não há vagas: “O jeito é ir embora para o exterior.”

Imigrantes também estão retornando aos seus países de origem. “Antes da crise, uma família grega me chamava duas vezes por semana para fazer faxina. Agora, os que não cortaram totalmente me chamam uma vez por mês. A maioria é de aposentados com problemas de saúde”, afirma a búlgara Violeta Cristouma, que mora na Grécia desde 1997.

Segundo Violeta, a maioria dos colegas da Bulgária, Albânia e Rússia perdeu o emprego e voltou para seus países de origem.

Nas principais cidades, lojas fecham as portas

Além de ter levado milhares de gregos a transferir as economias para bancos do exterior, a instabilidade na Grécia trouxe a dúvida sobre se é mais seguro manter o dinheiro em bancos do país ou deixá-lo em casa. “Prefiro guardar o pouco que tenho comigo. Tudo pode acontecer. Me lembra a época de guerra”, comenta a aposentada Ioanna, que prefere não revelar o sobrenome.

A crise não poupou a classe mais favorecida. Segundo Dimitris Liaos, dono de uma loja de equitação, no único hipódromo da Grécia havia, em 2010, 1,5 mil cavalos. Hoje, são 550. “Quem comprou cavalos por hobby não tem mais condição de mantê-los. Ou vendem ou dão de graça. A classe média tinha entrado para o hipismo, mas com a crise não conseguiu se manter”, relata Liaos.

Além disso, segundo o empresário, a Grécia perdeu a credibilidade no Exterior: “fazíamos importação com prazo para pagamento de dois meses, agora temos de pagar à vista. O pequeno e o médio empresário não têm como sobreviver sem crédito”, reclama.

Uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio Grego (Esee) mostrou que, nos últimos dois anos, 68 mil lojas foram fechadas nas principais cidades da Grécia. Espera-se que até o próximo mês mais 53 mil encerrem as atividades. Numa das principais ruas comerciais de Atenas, Stadiou, 32% das lojas cerraram as portas. Em Solonos, foram 40%. No bairro mais caro da capital grega, Kolonaki, das 300 lojas, 71 encerraram atividades no ano passado.

Crédito: Cláudia Machado (Jornalista e cientista política, Cláudia Machado, 33 anos, trabalha na área de jornalismo e redação para empresas de marketing em Atenas, na Grécia. Nascida em Petrópolis (RJ), mora no exterior há uma década.)

Grécia: sinônimo de crise e calote no mundo contemporâneo

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A crise da Europa no jornal brasuca – parte IV

EUROPA SOB MAU TEMPO:

DESPEDIDA DO FUTURO

No encerramento da série sobre a crise da Europa, irlandeses acuados por impostos e desemprego deixam o país ou buscam refúgio em pubs

Depois de terminar 2011 com aumento de Imposto de Renda e a notícia de que o governo pretende cortar 23 mil empregos no setor público até 2015, este ano começou ainda mais caro para os irlandeses. Eles suportam o peso do novo valor do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, que passou de 21% para 23%, e se preparam para arcar com um novo tributo sobre propriedades – equivalente ao IPTU brasileiro.

Um país que tem emigração em massa como parte da história e que já teve dias de glória como Tigre Celta – referência ao crescimento rápido do início dos anos 2000 – agora é mais uma vítima da turbulência econômica. Que, mais uma vez, muda a vida de seus cidadãos. Sean O’Saor, 30 anos, bancário, não consegue ver na Irlanda um futuro para sua carreira.

“O banco em que eu trabalhava perdeu mais da metade dos lucros, e muitos perderam promoções e o emprego. Nossos clientes eram irlandeses e estrangeiros que estavam com grandes problemas. Então, decidi deixar o país antes que ficasse ainda pior”, conta.

O’Saor vive há um ano e meio em Luxemburgo, país da zona do euro que ficou praticamente imune à crise e continua a ter a maior renda per capita do mundo.

“Eu tenho um projeto. Quero abrir um negócio, mas não acredito que seja possível na Irlanda. A crise está matando os que têm ambição e empurrando o país de volta ao comportamento conservador em busca de segurança”, explica O’Saor.

Até 150 euros no pub

Aos 25 anos, Christopher Coventry, assistente de gerente no varejo, quis investir na compra de um imóvel antes da crise, e o fez por meio de um banco. Quando a bomba econômica estourou, vendas e comércio foram afetados, sua renda diminuiu com os impostos e com a redução nas horas de trabalho. Não achou outro emprego que permitisse pagar a casa comprada dois meses antes.

“Fui mal orientado pelo banco, que disse ser o momento certo para comprar imóveis. Eles só queriam empurrar o financiamento. Ao renegociar, só ofereceram 8% de redução. Passei a trabalhar mais por menos e cheguei a dormir no chão da casa dos meus pais”, diz Coventry.

Coventry deixou família e amigos para viver no Canadá, onde trabalha na mesma função. Só assim está conseguindo pagar o financiamento da casa. “Precisei deixar a Europa em busca de trabalho. Se depender da minha vontade, não volto nunca mais”, afirma.

Stephen Dunne perdeu o emprego de consultor em empresa de recrutamento. “Precisei morar com minha mãe. Aos 25 anos, não deveria mais estar dependendo dela”, lamenta.

Ele é dono de uma loja de conveniência ao Norte do condado de Dublin. Os moradores passaram a comprar em grandes supermercados, e trabalhadores, a levar suas refeições, o que diminuiu o movimento da loja.

“Tive sorte de conseguir renegociar o aluguel do prédio, que reduziu 40% nesses quatro anos. Se o proprietário não entendesse minha situação, eu teria perdido meu negócio”, diz.

É impossível falar da Irlanda sem lembrar de seus pubs, hoje refúgios da tensão. Mesmo em um momento de fazer economia, esse tipo de gasto tem sido difícil de cortar para os irlandeses. O pint, copo com 500 ml de cerveja, ainda custa entre 5,50 euros e 6,10 euros. É comum ouvir um irlandês dizer que gastou 150 euros em apenas uma noite.

Crédito: Leandro Rocha (O jornalista Leandro Rocha, 32 anos, vive na Irlanda há cinco anos. Natural de Campo Grande (MS), é estudante de marketing.)

Mesmo em crise, o dinheiro do pint é sagrado

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A crise da Europa no jornal brasuca – parte III

EUROPA SOB MAU TEMPO:

O FIM DO CIRCO DA SONEGAÇÃO

No quarto dia da série sobre a crise na Europa, como o dolce far niente perdeu a doçura e hoje amarga a vida dos italianos

Paola Pronzato vive em uma colina perto da cidade de Viareggio, na região da Toscana, conhecida por sua indústria naval. Todos os dias, agradece por contar com o apoio financeiro da mãe aposentada e da irmã jornalista. Assim como milhares de italianos, Paola sofre no dia a dia os sintomas da crise econômica do país.

“A editora para a qual trabalho como secretária perdeu muitos clientes, e alguns funcionários foram mandados para casa. Tivemos horas de trabalho e salários reduzidos”, conta Paola, que agora complementa a renda como faxineira.

Mãe de dois adolescentes e recém-separada do marido que não lhe dá pensão alimentícia, Paola recebe o seguro-desemprego há mais de um ano.

A jovem Jessica Laveni, 20 anos, de Milão, enfrenta problemas semelhantes. Depois de um frustrado vestibular para o curso de design, decidiu que era hora de trabalhar. Mas o sonho do primeiro emprego ainda não se realizou. Estágios não remunerados e contratos temporários são os únicos resultados no currículo da jovem. “Gostaria de trabalhar em design, mas agora estou disposta a aceitar qualquer outra coisa, como vendedora de loja e caixa de supermercado. Melhor do que ficar em casa sem fazer nada.”

Em um país onde o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi dava sua benção em público a quem sonegava impostos, é de se esperar que tal prática seja comum entre os italianos. Muitos deles se orgulhavam de burlar o sistema fiscal. Esse tipo de prática de alguns cidadãos ajudou de alguma forma a criar uma situação que hoje abala a vida de Paola e Jessica.

As autoridades fiscais da Itália afirmam que o país perde cerca de US$ 15 bilhões por ano em receitas não declaradas, ou seja 17,5% do produto interno bruto (PIB) é sonegado. Esse é o terceiro maior índice da Europa, atrás somente de Malta e Grécia. “Sonegação é um grande problema na Itália. Mas a crise se deve sobretudo à perda de confiança e credibilidade do país no mercado internacional. Infelizmente, assim como na vida, a traição pode durar um segundo, mas reconquistar a confiança requer muito tempo”, diz o vice-diretor da revista econômica “Il Mondo”, Fabio de Rossi.

Para resolver o problema da crise, o atual primeiro-ministro, Mario Monti, lançou um pacote de austeridade fiscal de 30 bilhões de euros, aprovado pelo Senado no fim de 2011. As novas medidas permitem que o fisco vasculhe as contas bancárias dos italianos para confirmar se o valor dos depósitos está de acordo com a renda declarada. E os ajustes não param aí: revisão da idade para aposentadoria, liberalização dos preços de alguns setores, horário flexível para o comércio, venda de alguns medicamentos em supermercados, entre outros.

A Itália que sonega impostos, não paga taxas e trabalha informalmente também tem medo de acabar como a vizinha Grécia. O que não se explica, para muitos, são algumas anomalias. Segundo o fisco, quase metade dos barcos com mais de 10,7 metros pertencem a pessoas que declaram renda inferior a 26 mil euros (R$ 58,6 mil) ao ano. Os donos de 604 aviões particulares declaram rendas anuais entre 26 mil e 65 mil euros (R$ 146,5 mil).

Crédito: Fernanda Massarotto (Paulistana, a jornalista Fernanda Massarotto, 42 anos, mora há oito anos em Milão. Escreve sobre futebol, design, moda, turismo e economia)

O fim do dolce far niente italiano

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A crise da Europa no jornal brasuca – parte II

EUROPA SOB MAU TEMPO:

DESEMPREGADOS ENCHEM AS RUAS

No terceiro dia da série sobre a crise na Europa, a descrença dos espanhóis chega até a monarquia

Queda na bolsa de valores, aumento da dívida, resgate, recessão, risco-país. A cada dia, novos indicadores tumultuam o cotidiano dos espanhóis. O vocabulário das ruas se mescla ao do noticiário, e todos, além de treinadores de futebol, agora são analistas econômicos.

Enquanto Mariano Rajoy terminava seu primeiro discurso como novo primeiro-ministro espanhol, no final de dezembro, um senhor comentava com outro: “Mais de uma hora de discurso, e a única coisa de que lembramos é que ele quer passar todos os feriados para segundas-feiras.” A observação reflete como a crise econômica afeta o modo de vida espanhol. Assim como para os brasileiros, para eles os feriados são sagrados, e abrir mão será uma dura obrigação.

Quando o número de desempregados passa de 5 milhões – mais de um a cada dez habitantes – e fica cada vez mais difícil prever o que irá acontecer nos próximos meses, os espanhóis começam a colocar em xeque até o que antes parecia inquestionável.

Combinado aos sacrifícios impostos à população, um escândalo de desvio de dinheiro que envolveu o genro do rei Juan Carlos obrigou a tradicional monarquia, pela primeira vez desde a redemocratização, a tornar públicas suas contas. Os valores, que chegam a 1 milhão de euros por ano, indignaram a população. A notícia veio à tona no fim de 2011. Na época, a Espanha já era conhecida por abrigar algumas das maiores marchas de protesto da Europa, comandadas pelos autodenominados Indignados.

O desemprego é o que mais preocupa os espanhóis. Um exemplo da falta de perspectivas é dado por duas profissionais da área de comunicação que trabalhavam sob contrato temporário – o mais comum neste momento – e foram demitidas na véspera do Natal. A explicação da empresa: todos os negócios voltados ao mercado espanhol haviam sido cancelados, e a empresa passaria a atender a outro país. Como as amigas, de 25 e 35 anos, não tinham experiência no novo mercado, seus postos seriam ocupados por outros.

A funcionária mais antiga dizia estar tranquila, pois com seu salário-desemprego poderia viver alguns meses. Já a mais nova, que ingressara há pouco no mercado de trabalho, estava apavorada – seu contrato não lhe dava direito ao seguro, e a possibilidade de encontrar um novo trabalho era remota. Mais de um mês depois, as duas espanholas ainda estão desempregadas.

Cresce barreira a estrangeiros

Esta não é a primeira crise enfrentada pela Espanha, mas já está entre as mais duras. Os que atravessaram outros períodos de dificuldade econômica, como a do início dos anos 90, acreditam que o momento está servindo para chamar a atenção da população para a necessidade de se adaptar às mudanças e não temer as adversidades. Tal como está a economia, é impossível saber o que vai acontecer, mas tudo indica que uma nova alta de impostos se aproxima.

A crise afeta também estrangeiros que estão na Espanha. Muitos, ainda com a velha ilusão de fazer dinheiro na Europa e depois voltar aos seus países, continuam desembarcando no país. A maioria dos jovens que conheço e estudam em Madri são venezuelanos. Para eles, a situação está muito difícil, mas ainda não se compara à de seu país.

Hoje, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), quase 10% da população da Espanha é formada por estrangeiros. Aqueles que já estavam no país antes de 2008 e têm algum tipo de formação seguem com seus trabalhos, mas já avaliam a possibilidade de voltar à terra natal. Os que estão chegando agora encontram ainda mais barreiras para entrar e permanecer. Entre empregar um espanhol e um estrangeiro, as empresas optam por cidadãos locais.

Crédito: Tatiana Mantovani (Tatiana Mantovani, 28 anos, é jornalista e vive em Madri. Atua na área de marketing e gestão de conteúdo para uma página de internet na capital espanhola)

Na Espanha, de cada 10 pessoas, 1 está desempregada

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A crise da Europa no jornal brasuca – parte I

Um dos jornais da minha cidade está publicando essa semana uma série de reportagens sobre a crise na Europa. A primeira matéria saiu ontem, domingo, e era sobre a Grécia. Hoje, segunda, foi a vez de Portugal. Na sequência, Itália, Irlanda e Espanha.

Pretendo fazer comentários sobre os artigos publicados no final dessa semana. Por enquanto, apenas colo a íntegra dos textos e a imagem da página de onde saíram. Inicio por Portugal, pois é o que cerneia o presente blog 🙂

Portugal, o P de PIIGS

EUROPA SOB MAU TEMPO:

ARROCHO NA MESA DO RESTAURANTE

No segundo dia da série sobre a crise na Europa, como o aumento de impostos gera desafios aos comerciantes de Portugal

A secular Madragoa, bem próxima ao rio Tejo e à zona portuária de Alcântara, já resistiu ao Grande Terremoto de 1755, ao rearranjo político-econômico do regime salazarista e à tão aguardada entrada na União Europeia (UE). Costuma-se dizer pelas ruelas desse bairro que “quem por cá vive, gente forte é”. Mas o que essa gente empreendedora não esperava é que, num piscar de olhos, um empréstimo internacional de 78 bilhões de euros mudasse tudo.

A crise vivida pela zona do euro vem impondo um novo modo de vida aos lusitanos. Somada à política intervencionista da troika (composta por UE, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu), alterou hábitos de consumo, elevou o índice de desemprego e diminuiu a competitividade do país no mercado externo.

Na ruelas da Madragoa, nem todos conseguiram se reinventar. Na pequena travessa do Pasteleiro, em dois meses a vizinhança viu dois tradicionais estabelecimentos fecharem: um salão de cabeleireiro e uma galeria de arte que empregava uma dezena de profissionais.

O que se diz na travessa, um discurso que ecoa por toda a cidade, é que “não há maneira de sustentar tantos impostos”. Traduzindo em números, significa dizer que, para o governo do primeiro-ministro Passos Coelho cumprir as metas determinadas pela troika, os donos de restaurantes, por exemplo, pagarão 10% a mais de Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA). E há mais: 23% de aumento nas tarifas de energia elétrica e gás, 3,19% nos aluguéis, 13% na tarifa da água, 4,36% nos pedágios.

30% dos jovens sem trabalho

O reflexo da austeridade é sentido por vários segmentos. Como muitos em Lisboa, o comerciante José Martins Sousa, 64 anos, à frente de um pequeno restaurante na Madragoa há três décadas, refez toda a logística do local para reduzir o impacto dos aumentos de tributos.

“Não alterarei os valores do cardápio. Mas me vi obrigado a dispensar meus três funcionários e manter o ritmo da casa apenas comigo e minha esposa”, conta Martins, que não sabe até quando manterá as portas abertas.

Um dos primeiros a integrar a Passeata dos Indignados e Precários, no dia 21 de janeiro, o aposentado Fernando Augusto, 64 anos, confirma um cenário cada vez mais recorrente: de pais que mantêm os filhos desempregados. Mesmo com o corte mensal de 300 euros na aposentadoria, Augusto arca com todo o orçamento doméstico e sustenta os dois filhos recém-formados.

“Que perspectiva tem um pai de família ao ver os filhos formados e desempregados há meses?”, desabafa o aposentado.

Mais de 30% dos jovens estão sem trabalho no país. De acordo com os últimos dados da Eurostat e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), há mais de 600 mil desempregados inscritos nos centros de emprego em Portugal.

Mas é no meio da crise que se vê emergir uma nova linguagem de emancipação. Na gramática da indignação, repercutida da Madragoa até Benfica e passando pelo Chiado, há uma população disposta a transformar a política unilateral do país. E, como nem todo fado canta a desilusão, o português sabe muito bem o que significa transformação.

Crédito: Juliana Souza (Jornalista, Juliana Souza vive em Lisboa desde 2008 e escreve para jornais e agências em Portugal e no Brasil. Atualmente, cursa doutorado em linguagens e heterodoxias na Universidade de Coimbra.

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Porque lá em Portugal…

Adivinha o que meus amigos fazem quando veem alguma coisa sobre Portugal na Internet? Colam o link no meu Facebook, ou, então, me enviam por e-mail. Meus amigos encontram comigo e comentam sobre o programa “Muito Giro”, que passa no canal por assinatura Multishow, ou sobre as tantas reportagens que a Globo anda a fazer na terrinha – provavelmente a produção em Portugal tenha aumentado por conta dos estúdios em Lisboa inaugurados no final de 2011. Eles veem Porto, Lisboa e o Algarve inteiro na tv (ou na Internet) e querem comentar comigo. Tem gente que pede dica de viagem, mesmo sem ter nada planejado, enquanto outros aproveitam para esclarecer dúvidas do tipo: “Onde fica a cidade do Algarve?”, e eu tenho que explicar que o Algarve é uma região-muito-gira no sul do país.

Eu gosto de ser esse ímã de assunto sobre Portugal, até porque eu adoro aquele país. Sou até criticada por frequentemente iniciar frases assim: “Porque lá em Portugal…”. É irritante, eu sei. Parece esnobe, eu entendo. Mas o que eu posso fazer? Eu sei que tão cedo não devo voltar, então procuro curtir minhas lembranças da maneira que eu julgo a melhor: diariamente!

Hoje abri meu Facebook, e lá estava o link da versão fado da música de Michel Teló. Não sou muito fã do ritmo, mas custa nada dar um bizóiada. Até porque quem colou na minha wall foi uma amiga muito querida, a Laura, que, inclusive, me visitou quando eu morava no Porto. Detalhe que ela só inclui Porto e Lisboa no roteiro porque eu disse que Portugal valia a pena sim!

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Surfistas de sofá

Sou membro do Couchsurfing há pelo menos 5 anos. Só tive boas experiências com o projeto. Tenho dezenas de histórias para contar e também já ouvi um bocado sobre as experiências de amigos e conhecidos.

A primeira vez que usei o site mesmo a sério foi em 2007. Eu planejava uma viagem ao Rio de Janeiro no verão de 2008 e decidi fazer alguns amigos cariocas antes do embarque. Conheci o Flávio, a Bianca e a Ane. Mantenho contato com eles até hoje via Facebook.

Algum tempo depois, encontrei-me em Porto Alegre com dois peruanos que estavam a viajar pela América Latina há seis meses. Eles estavam percorrendo o Brasil pegando carona com caminhoneiros na estrada. Mal tinham dinheiro para comer – muito embora tivessem o suficiente para gastar com bebida a se emborrachar. Levei-os a um bar da minha cidade, um dos mais baratos que eu conhecia na época. Ouvi boas histórias naquela noite, e guardei para mim um conselho: “Visite Bogotá, mas não vá a Lima.” Talvez um dia eu faça isso 🙂

Mas é claro que foi na Europa que eu tive as maiores experiências. Aqui no Brasil (e isso se aplica a toda América Latina, África e parte da Ásia), as pessoas são mais desconfiadas com esse tipo de coisa. Como vou colocar uma pessoa que nem conheço dentro da minha casa? E se me roubar, sequestrar, matar enquanto durmo? Enfim, os terceiro-mundistas temem mais quanto a segurança, e eu me incluo nisso. Acho mais fácil surfar no sofá alheio se estiver no hemisfério Norte.

Decidi começar a receber pessoas depois de quatro meses morando em Portugal. Encontrei com alguns CS’s antes disso, apenas para um meet for coffee or drink. No entanto, eu não estava apta a receber qualquer um que quisesse usar minha casa como dormitório. O interessante do Couchsurfing é a troca. Realmente conhecer alguém que possa fazer alguma diferença na sua vida – nem que isso se resuma a apenas alguns dias saindo da rotina.

Em meio às mensagens da minha inbox, simpatizei com uma polaca, oriunda de uma cidade a qual eu não sabia pronunciar o nome corretamente, mas hoje me orgulho de ter aprendido: Wroclaw (não se lê “vrôclau”, mas sim “vrôtzlav”!). Asia tinha fotos engraçadas no perfil. Chegou ao Porto no início do verão de 2009, acompanhada do namorado e do filho dele, uma criança de cinco anos (sim, eu recebi uma criança de cinco anos em casa e não a matei!)

Pediram inicialmente para ficar três dias, que viraram cinco e se transformaram em 1 semana. Depois, seguiram para o sul de Portugal, retornando novamente para a minha casa após algumas semanas.

Tive alguns outros hóspedes naquelas primeiras semanas do verão, até que, em julho de 2009, fui eu que comecei a surfar no sofá alheio.

Com algumas dificuldades, arrumei um couch em Barcelona (a Asia me ajudou recomendando algumas pessoas que tinham respondido a ela na época em que viajou pra lá). Fui a primeira hóspede de Catriel, um argentino que morava há algum tempinho na Catalunha. Ele trabalhava como ator e vivia num apartamento daqueles bem antigos, pertinho do centro de Barcelona. Tinha uma companheira de casa que era do país basco e se referia a mim como “chica guapa”. Não lembro o nome dela. Só sei que é uma das mulheres mais bonitas que conheci na vida, apesar de ter a cabeça raspada (se bem que dizem por aí que essa é a melhor maneira de saber quem é verdadeiramente belo: tirar-lhe os cabelos!).

Como o apartamento tinha três dormitórios, fiquei com um quarto só para mim. Não posso dizer que foram as melhores acomodações do mundo, mas tinha uma cama com lençóis limpos e uma sacada que não conseguia acessar porque a porta estava emperrada, além de milhares de sacos plásticos e entulhos espalhados por um armário que estava caindo aos pedaços.

Infelizmente Catriel havia quabrado o pé dois dias antes de eu chegar, portanto não pôde me mostrar a cidade. Apesar disso, me deu alguns mapas de Barcelona e me explicou os pontos imperdíveis. Combinamos pela Internet que eu ficaria por três noites, mas acabei ficando uma a mais – claro que perguntei a ele e a basca se poderia, e lembro que ela disse: “Sí, sí guapa, claro que sí.”

Eu e Catriel, que insistiu em posar com a cortina do apê

Em Barcelona encontrei pessoalmente com Pierre, CS da parte francesa do Canadá. Ele havia me enviado uma mensagem pedindo pouso no Porto. Informei a ele que estaria em Madrid e depois iria Barcelona, por isso não poderia hospedá-lo. As datas de nossa viagem coincidiram, e decidimos nos encontrar em Barcelona. Comemoramos seu aniversário juntos, jantando paella em algum dos restaurantezinhos perto da Rambla.

Aliás, mantenho contato com o Pierre até hoje. Atualmente ele está vivendo em Paris, num pequeno apartamento perto do Moulin Rouge, segundo me informou.

Com Pierre em Barceloneta

Foi uma colega de Faculdade que me indicou um couch na Áustria. Apesar de dizerem que Viena é um dos lugares mais fáceis para descolar um, tive dificuldades. Steffanie me passou o link do perfil da Kathalena, amiga de sua irmã.

Algumas trocas de mensagem depois, Kath me passou as indicações de como chegar a sua casa tim-tim por tim-tim. Combinamos que eu estaria lá por volta das 17h, o que não aconteceu. Acabei demorando mais do que o esperado em Blatislava (minha cidade preferida na Europa!) e peguei o ônibus mais tarde. Nesse dia, eu não estava sozinha, mas sim com meu amigo polaco Karol, que conheci em Erasmus.

Enviei uma mensagem a ela avisando que chegaria atrasada, por volta das 20h. E foi mais ou menos isso que aconteceu. Lembro que saímos do ônibus e pegamos o metro em direção a casa dela. Saímos na estação correta, seguimos as indicações que ela havia passado (caminhar duas quadras e virar a esquerda). Mal estávamos na esquina, e a vi sentada na janela de casa nos esperando. A primeira coisa que ela disse foi: “You are late and I don’t like people who are late.” Subimos. Ela nos recebeu na porta, pediu que tirássemos os sapatos, me deu a chave do apartamento, explicou como eu alimentava o gato, como ligava o chuveiro e disse para eu não comprar comida, pois ela tinha o suficiente em casa. Já estava quase fechando a porta de casa, quando retornou: “Vou dormir na casa do meu namorado, fiquem à vontade.” Eu e Karol tivemos nosso próprio apartamento em Viena por duas noites.

"Nossa" cozinha em Viena

Eu nunca tinha pensado em conhecer Wroclaw. Aliás, eu nem sabia que essa cidade existia antes da Asia aparecer na minha vida. Decidi que poderia visitá-la no caminho para Varsóvia, afinal o trem passaria por ali e custava nada ficar por uns dias. Enviei mensagem a ela para dormirmos no apartamento do seu namorado, pois ela vivia com o pai e eu estava viajando com o Karol.

O namorado da Asia nos passou um número de táxi para quando chegássemos na cidade – o trem passava por Wroclaw às 4 da matina, então não haveria ônibus. Acontece que há dezenas de táxis na Polônia que não são mesmo táxis, ou melhor, são clandestinos. O número que tínhamos era um desses, que, segundo o que nos informaram, seria mais barato.

Confesso que tive um pouco de receio, mas como o Karol é polonês não me pareceu tão mal assim. O táxi marcou conosco no posto de combustíveis ao lado da estação de trem. Ficamos meio de “tocaia”, pois o plano era esperar o motorista estacionar, “dar uma conferida” se parecia boa gente e só então embarcar. Como eu estou viva hoje para contar a história, presume-se que nada me aconteceu naquela madrugada. Enfim, o “esquema” é mesmo tranquilo, e nos custou cerca de 6 euros por quase 15 minutos de corrida. Bagatela. O “taxista” nos contou que o carro tinha placa francesa, pois é possível comprar usados muito baratos por lá, o que vale a pena para o pessoal do leste europeu.

Eu, Asia, namorado da Asia e filho do namorado da Asia de lancha nos canais de Wroclaw, a cidade das ilhas

Na virada de 2009-2010, participei do CouchSurfing Winter Camp em Budapeste. Foi o melhor Ano Novo da minha vida (até hoje!). Tivemos algumas atividades com o grupo, e duas festas bem legais. Numa dela, cada pessoa trazia uma bebida de seu país – eu tive que levar os ingredientes da sangria portuguesa, pois não havia cachaça disponíveis nos non-stops húngaros.

Desde agosto de 2011, o Couchsurfing deixou de ser uma organização sem fins lucrativos. Acho mais do que justo. As pessoas que organizam essa corrente devem sim receber por conta disso. As boas iniciativas do mundo também devem ser bem recompensadas.

Costumo recomendar o site para quem sai de intercâmbio, mas sempre alerto para estarem cientes da real função do projeto. Mais do que um lugar para dormir “de grátis”, o CS é uma troca de experiências. Para manter a ideia ativa, é importante que os indivíduos cadastrados zelem de verdade por essa iniciativa. Sou defensora ferrenha dessa ideologia, e recomendo àqueles que querem apenas economizar na viagem que procurem um hostel baratinho.

E para os que acham uma experiência perigosa, #ficadica do vídeo abaixo, que está na capa do site novo.

E falando em perigo…

Minha amiga Gabriella viajou com mais cinco amigos a Amsterdão. Eram 3 meninas e 3 meninos. Ficaram na casa de um couchsurfer que morava sozinho. Dormiram os seis na sala do apartamento do cara, que era “muito gente fina”, segundo ela me contou. Ele inclusive pagou pizza para eles na primeira noite.

No segundo dia, eles descobriram algo estranho na geladeira. Um pote, com um líquido que parecia sangue e algumas coisas boiando dentro. Mexeram um bocado, sacudiram e decidiram abrir. Era uma orelha humana. Em outro pote havia dedos humanos.

Os seis então fizeram uma pequena reunião e decidiram ir embora na mesma hora. No entanto, estava frio e escuro. Além disso, a casa ficava um bocado longe do centro, e eles não sabiam se haveria transporte até lá. Também não sabiam se os hostels teriam vagas. Então mudaram de ideia: dormiriam mais aquela noite por ali mesmo e saíram bem cedo no outro dia.

A porta da sala onde eles dormiram não tinha chave. Eles então empilharam as mochilas em frente a porta, para dificultar o acesso, caso o então assassino holandês decidisse cortar partes dos seus corpos durante a noite…

Mas é claro que isso não aconteceu! Apesar disso, Gabi e os outros devem ter passado por verdadeiros momento de tensão hehe

Mais tarde, quando o dono da casa chegou, alguém tomou coragem e acabou por perguntar o que tinha naqueles potes. O holandês contou que era maquiador – ou algo assim – e disse ter essas “partes humanas” (que eram de mentirinha) na geladeira para assustar as meninas com quem passava a noite. Pela manhã, pedia a elas para irem buscar água na geladeira. A mulher abre a porta e vê potes com dedos ou orelhas boiando. O que faz? Vai embora na mesma hora, sem dar explicações ou causar desconfiança… ninguém vai arriscar a sorte com um estripador.

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Ai se eu te pego na Europa

A reportagem de abertura do Fantástico deste domingo, 15 de Janeiro, foi o sucesso de Michel Teló na Europa. Ele foi a Península Ibérica para duas apresentações em Portugal e quatro na Espanha, além de inúmeras entrevistas e participações em programas de tv.

O Fantástico aproveitou para proporcionar o encontro de Teló com Cristiano Ronaldo, que, segundo o que dizem, foi responsável pelo sucesso de “Ai se eu te pego” do outro lado do Atlântico, depois de comemorar um gol do Real Madrid com a dancinha já famosa cá.

A primeira vez que eu ouvi falar de Michel Teló foi na Europa. Fui a festa de despedida de um amigo brasileiro que estava retornando ao Brasil. Ele me mostrou “Fugidinha”. Outro amigo, que é do Mato Grosso do Sul, disse que conhecia o Michel Teló. Parece que um amigo dele era primo do Teló ou algo assim, e eles se conheciam pessoalmente. Claro, na época, Michel Teló não devia nem sonhar que um dia faria sucesso na Europa, conheceria o Cristiano Ronaldo e que um monte de gente que não fala a língua dele cantaria sua música.

Aqui no Brasil há muitas pessoas criticando o sucesso de Michel Teló. Dizem que ouvir e gostar de “Ai se eu te pego” é falta de cultura, coisa de gente de baixo nível. Há, inclusive, cantores e pessoas da mídia falando mal dele. Eu acho isso um absurdo!

Aprendi na Faculdade, em uma aula de Psicologia, que uma pessoa pode ser vista de três formas distintas: 1) como a pessoa se vê; 2) como os outros veem a pessoa; 3) como a pessoa pensa que os outros a veem. E daí, fico a pensar: o Brasil não é uma pessoa, ok. Mas é uma Nação, formatada por diversas identidades, que correspondem também a uma identidade única, pois senão não teria estabelecido seus limites geográficos assim. Ou seja, dá para aplicar essa teoria ao país.

Como o Brasil se vê? O Brasil é o país da esperança para alguns, e das oportunidades para outros. É um país formatado por uma massa sem cultura, e uma elite que administra dinheiro e poder. Mas a elite também pode ser vista como burra, formada por filhinhos de papai que não se prestam a ler um livro. O Brasil é o país das cotas raciais para ingresso na Universidade, pois tivemos escravos até quase o início do século XX. O Brasil é o país do carnaval, das mulheres bonitas, dos bons jogadores de futebol que são exportados ainda moleques. Mas o Brasil também é o país da má alimentação, da subnutrição, do surto de câncer e dos astros do futebol que decidem ficar nos times de cá. Temos a Amazônia, as praias e outras belezas naturais. Mas também temos cidades lotadas, caras, sem infraestruturas básicas ou transporte público. Pode ser o país da fome, da miséria e da injustiça social, ao mesmo tempo que, para alguns, é o lugar certo para gastar um salário mínimo numa noite de balada.

Como os outros veem o Brasil? Há provavelmente os que ligam Brasil a diversão (carnaval, futebol, festa, verão, cerveja, mulher bonita), enquanto outros o remetem a pobreza (favelas, crianças famintas, seca no Nordeste, corrupção social, tráfico de drogas, guerra civil). Deve existir os que somam os dois fatores (um país de gente alegre, mas pobre; um país bonito, mas perigoso). Ainda posso citar gente que acha o Brasil caro, que nunca viveria aqui ou que sonha em passar o resto dos seus dias cá. Do mesmo jeito, há os que acham o Brasil ridiculamente barato e, talvez, o país das oportunidades no momento atual.

Fiquei matutando sobre esse assunto um bocado. Concluí que a maioria das pessoas deve ver o país de uma forma bem particular, afinal somos extremamente plurais aqui. Para escrever sobre como os outros nos veem, tentei lembrar de comentários que ouvi de estrangeiros sobre o país. Impossível não cair em alguns clichês.

Agora, talvez o mais difícil pareça imaginar como o Brasil pensa que os outros o veem. Na minha opinião, é a parte mais fácil. Como o Brasil pensa que os outros o veem? Praia, samba e futebol. E, agora, ainda há o temor de que associem nosso país ao “Ai se eu te pego” de Teló. Mas por que o medo? Se temos mesmo milhares de pessoas dançando, cantando e indo aos shows dele? Não é o gosto por uma música ou o hábito de assistir determinados programas de tv que define se a pessoa é culta ou não.

Detalhe que Michel Teló já gravou “Ai se eu te pego” em inglês. A ideia é “atacar” agora os país de língua não latina 😛

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Portugal no vestibular da UFRGS 2012

Ocorreu na última semana o vestibular 2012 da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a melhor e maior universidade do meu Estado (eu iniciei meus estudos de Geografia lá e pretendo acabá-los se tiver forças…). Apesar de não estar frequentando o curso nos últimos tempos (acabei me formando geógrafa pela Universidade do Porto, apesar de ainda ter a vaga garantida na UFRGS), me candidatei a fiscal do vestibular e fui sorteada. Foram quatro dias de prova, e, pela primeira vez, vi Portugal aparecer nas questões;

Eu tentei o vestibular da UFRGS duas vezes. Fui aprovada na segunda, em 2006. Posso dizer que conheço a maioria das provas do vestibular, pois estudei pelas antigas questões para ingressar na Universidade. Nunca vi qualquer coisa sobre Portugal nas provas.

Aliás, nunca se falou tanto de Portugal e dos irmãos de língua portuguesa no Brasil. Aliás, acredito que a maioria das pessoas por aqui nem sabe que falam protuguês na África, e devem achar esquisita a ideia de existirem pessoas que nasceram falando português na Europa;

Havia uma questão sobre a Revolução dos Cravos na prova de História e alguma pequenina menção à crise europeia (citando a Espanha também, pelo que me recordo).

O pessoal sempre tenta adivinhar o que será o tema de redação. Esse ano, não lembro de ter visto alguém acertar. Na prova, era pedida uma dissertação sobre “a última flor do Lácio”. Havia, inclusive, um textinho estraído do Observatório da Língua Portuguesa, site vinculado a Sapo. Além disso, um gráfico ilustrava os locais onde a língua é falada no mundo – garanto que alguns dos vestibulandos deve ter descoberto que se fala português em São Tomé e Princípe na hora da prova (aliás, e maioria deve continuar sem saber onde fica isso!);

Redação do vestibular da UFRGS 2012: tema era o crescimento da importância da língua portuguesa

Durante o vestibular que conheci Marcelo. Ele foi coordenador do local de prova onde eu trabalhei e é professor na Faculdade de Educação Física da UFRGS. Cursou o Doutorado na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto entre 2003 e 2006, ou seja, tivemos muito assunto durante os quatro dias de vestibular;

O mais interessante é que notei mais uma vez como as pessoas têm lembranças carinhosas da cidade do Porto, e todos que viveram no velho continente acabam por concordar que a qualidade de vida europeia é algo que não se alcança no Brasil – não importa a quantidade de dinheiro que você tenha! Marcelo só não se dava muito bem com os portugueses, em especial “com os vizinhos velhos chatos que chamavam a polícia quando fazia uma festinha no apartamento”.

Marcelo viveu em Matosinhos por três anos com a mulher. Sua primeira filha (hoje com quase 7 anos) nasceu em Portugal. A esposa trabalhava num ginásio em Matosinhos, enquanto ele escrevia a tese;

Ele contou-me uma história curiosa sobre a Queima das Fitas. Talvez eu nunca tenha me dado conta disso por, digamos, ingenuidade (?!), ou apenas não tenha me atentado a esses detalhes: Marcelo disse que viu durante a Queima várias meninas com as chamadas “pílulas do dia seguinte” na bolsa para tomarem caso fizessem alguma coisa com alguém ou alguéns (e esquecem da proteção por causa da quantidade de álcool ingerida).

Eu já sabia que as portuguesas eram mais libertinas que as brasileiras (muito embora a maioria pensem que o oposto é verdadeiro). Confesso que fiquei um pouco assustada ao cogitar essa história como verdade. No entanto, sei de histórias “piores” do que essa que comprovam a tese que o pessoal europeu é sim mais libertino que os povinho da “terra do carnaval”;

E para aqueles que não sabem, a Queima das Fitas é uma grande festa universitária que ocorre durante 8 dias em algumas cidades de Portugal. As mais famosas são a do Porto e a de Coimbra. Os finalistas (graduandos do último ano de curso) desfilam pela cidade, participam de diversos eventos e bebem MUITO. No Porto, a noite, todos se dirigem ao Parque da Cidade para assistir a concertos de música e virar shots nas diversas barraquinhas ali montadas. Eu participei por 2 anos, sempre trabalhando. O ingresso da semana custa cerca de 50 euros.

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