Paredes-meias

Que Siza Vieira é o mais importante arquiteto português e famoso mundialmente todo mundo já sabe. (Bom, se você não sabe, pesquisa no Google então!). Não sou estudante de arquitetura, mas acho a obra de Siza muito parecida com a de Oscar Niemayer (quem sabe esse comentário faça algum sentido – ou não!). Eu estava pesquisando na Wikipedia e auferi que o cara é mesmo bom. Construiu uma penca de edifícios em diversas cidades do mundo, em quase todos os continentes.

Entre as obras que eu conheço estão o Museu de Serralves e a Fundação Iberê Camargo, na minha querida (not) cidade Porto Alegre. Além dessas, morei por algum tempo pertinho do Bairro da Bouça. Para aqueles que não sabem, “bairro” em Portugal refere-se a um conjunto de moradias populares, daquelas que se constrói no Brasil para realocar famílias que vivem em favelas ou em má condições.

O Bairro da Bouça fica ao pé da estação de metro da Lapa, no Porto. Faz esquina com a Boavista e fica a uma quadra de Cedofeita, ou seja, está localizado no centro da cidade, o que contraria um pouco a “lógica” da construção de periferias (Explico-me: Não é porque alguém tem menos dinheiro que merece viver em zonas mais afastadas ou locais com pouca infra-estrutura). Eu morei por seis meses na rua do Monte Cativo e passava todo dia por ali.

Estação da Lapa marcada pelo Google. Ali fica o Bairro da Bouça. Minha ex-casa está marcada com o ponto vermelho-e-branco!

Descobri ontem um documentário sobre o Bairro da Bouça: Paredes-meias mostra a conturbada construção do bairro, que iniciou na década de 70 (época de Revolução dos Cravos) e foi apenas recentemente concluído. Aliás, eu já disse aqui nesse blog que a urbanização portuguesa foi tardia em relação aos outros países da Europa. Até a década de 60 do século XX (sim, século XX!!!), boa parte da população ainda vivia no campo. Dessa forma, era meio lógico que os migrantes iriam se acumular nas chamadas “ilhas”, ou seja, as tais favelas que conhecemos tão bem no Brasil.

A construção de bairros populares é uma constante em Portugal. As pessoas compram os apartamentos ou casas, mas não podem vendê-los nem alugá-los. Apesar disso, eu conheci estudantes que alugavam moradias em bairros populares, mas não sabiam dessa “regrinha” (por isso que é importante ir informado para um país desconhecido!).

Abaixo, teaser do filme Paredes-Meias.

PAREDES MEIAS / PARTY WALLS – teaser (2008) from muzzak on Vimeo.

3 comentários

Filed under Porto, Portugal

3 responses to “Paredes-meias

  1. Débora

    Eu morei aí !!!!! Que chic né?!

  2. Manuel

    Olá. O termo bairro é mais amplo que isso. Há bairros sem serem populares. Numa cidade toda a gente acaba por ter um bairro: uma zona que por uma razão ou outra mantém uma identidade comum. Poderá ser localização geográfica ou por morfologia das edificações. Penso que quando refere bairro popular se refira a ‘bairro social’ – como neste caso da Bouça. Ou seja, construção cooperativa ou estatal destinada a classes mais desfavorecidas. O Siza projectou, nos anos 70, o bairro da Malagueira em Évora que é uma experiência de construção social mas horizontal. Tratando-se do Siza vem gente até do Japão para o visitar.
    Formalmente o Siza está muito distante do Niemeyer, mas no caso do museu no Brasil, rendeu uma homenagem ao ‘modernismo tropical’ – o uso do betão (concreto) e uma certa exacerbação expressionista.
    Ah…quando fala dos anos 60 do século XX, por certo refere-se ao urbanismo modernista. Como Portugal se manteve ‘neutral’ na Segunda Grande Guerra, não teve necessidade de reconstruir as cidades. Na altura os booms populacionais ocorriam nas colónias ultramarinas e aí a história era bem diferente.
    Ainda falando de urbanismo, por certo saberá que a Baixa Pombalina (Lisboa), século XVIII, foi um importante plano de reconstrução urbana – inovador em termos desenho da cidade (com repercussões sociais e económicas) , numa altura em que toda a Europa ainda andava às voltas com os excessos do barroco. O atraso é relativo e contextualizável.
    Cumprimentos!

Deixe um comentário