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A memória de Dona Vera

Dona Vera sempre lembra das datas comemorativas, feriados e aniversários familiares. É tão real quando lembro dela falando logo no café da manhã: “Hoje é aniversário do primo tal” ou “Domingo é dia dos pais, já comprou o presente pro teu?”. Parece que escuto sua voz anunciando o feriadão de Páscoa ou que na próxima sexta-feira alguma tia fará anos.

Dona Vera é minha mãe. Apesar de achar que amendoím faz mal, se fosse um animal, seria um elefante. Dizem por aí que os elefantes tem boa memória. Ela tem melhor!

Enquanto no Brasil, aproveitava-me dos conhecimentos “dativos” de minha mãe para saber quais os próximos feriados escolares e dias de festa. Em Portugal, tento me atualizar via publicidade que vejo na rua ou sites de Internet. Apesar de ser fã de ler jornal, não tenho o costume de comprá-lo por aqui. Às vezes leio na bliblioteca, mas parece não ser suficiente para sacar esse tipo de informação. Televisão é algo que já não me pertence, e em rádio só ouço música. Os sites de notícia portugueses só não são nulos porque existe uma meia dúzia deles. As edições onlines dos jornais maiores até que são boas, e ainda dá pra pegar alguns jornais gratuitos que distribuem por aí, como o Metro, Destak ou Global.

Enfim, com a mãe longe, acabo sabendo de feriados e comemorações por osmose. Até porque certas datas festivas têm data diferente aqui, como o Dia dos Namorados (14 de fevereiro), por exemplo. Sinto que o Dia das Mães está próximo, pois vi alguma publicidade sobre isso essa semana, mas nem sei quando é (e também não importa muito, pois Dona Vera está além-mar). Em 22 de abril não foi feriado, mas três dias depois foi. Em 25 de abril comemorou-se o fim da ditadura por aqui, enquanto o Brasil celebrava a Inconfidência Mineira (e teve gente me perguntando se era feriado porque descobriram o Brasil em 1500…).

Primeiro de maio é feriado universal, mas no dia seguinte, Portugal universitária pára por uma semana. A Queima das Fitas, maior evento universitário português, ocorre no Porto até o dia nove de maio. Aliás, quase toda cidade maiorzinha em Portugal tem sua própria edição.

Obviamente, Natal e Ano Novo seguem a rotina. Páscoa é igual em todo o mundo cristão. Destaque para a mega festa de São João que acontece em Europa. Portugal inteira sai às ruas para comemorar o início do verão na noite de 23 de junho. É uma das coisas mais espetaculares que já vi.

Sobre as comemorações familiares, só lembro das mais importantes. Aniversário de pai, mãe e irmã. Admito que também sei a data de nascimento do meu cachorro Suky: Foi em primeiro de novembro! Dos outros parentes, ora lembro do mês, ora minha mãe atualiza-me via Skype. Filha de elefante nem sempre elefantinha é!

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Almofadas em batalha!

E daí juntam uma cambada de malucos munida de almofadas e travesseiros no meio da Avenida dos Aliados em um sábado a tarde! Coisas de Europa. O lance foi combinado pela internet… Parece que é a terceira vez que ocorre aqui no Porto, mas já é tradução em algumas cidades européias. Apareceu até na tv brasileira, pois minha ex-colega de quarto – que agora já habita as terrinhas mais ao sul novamente – comentou algo via messenger.

A regra é simples. Leva uma almofada e disposição para bater ou apanhar das 17h às 20h. O impressionante foi que após baterem as doze badaladas do relógio da Câmara Municipal do Porto, o pessoal entrou automaticamente no espírito. O que parecia uma avenida tranquila em uma tarde se sábado em início de primavera – mas com uma ventania do cão – tornou-se campo de batalha.

Porto, Avenida dos Aliados, sábado, 3 de abril de 2010

Quando os participantes “murchavam” tinha sempre alguém para bater numa lata ou dar um grito alto, para fazer com que o pessoal se anime de novo. Creio que o número de pessoas tenha sido menor do que no ano passado por causa do feriadão de Páscoa – apesar de eu não ter estado presente em 2009, ouvi boatos que o número de almofadas presentes e desperdício de penas ou espumas vagabundas foi bem maior…

Guerrilheiros posam para a foto! (Detalhe: Carolina, Lorrayne e Regina - no lado esquerdo da foto - só posaram mesmo, pois nem estavam participando da batalha!)

Enfim, esse é o tipo de evento que classifico como interessante. Mesmo que a pessoa não participe – que foi o meu caso, pois não estava a fim de ser nocauteada no final de semana -, dá pra sentir um espiríto de harmonia entre um bando de doidos que não se conhecem e leram na internet sobre uma tal de batalha das almofadas… e lá foram! Dá pra perceber que as coisas públicas importam muito mais por aqui, além de terem uma percepção muito mais comunitária e cooperativa das coisas – é a velha história do “na Europa tudo funciona”, justificada pelos próprios habitantes da terrinha 🙂

Sempre sobra pra alguém! Coitadinho do varredor de rua...

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Carnaval em Ovar

Em Portugal, carnaval se comemora em Ovar. O esquema tem até site, com programação completa, que remete até a micareta em Salvador – olha o exagero, Fernanda! Enfim, fato é que, corre o boato, que uma cambada de portugueses se desloca de carro ou comboio para a cidadezinha perto de Aveiro, na região central do país. Ovar tem pouco menos de 60 mil habitantes, mas, reza a lenda que, no carnaval a cidade enche. As praças são tomadas, em especial na Noite Mágica, que ocorre hoje, segunda-feira, 15.

Todo mundo vai mascarado. Se bem que hoje eu estava a ver tv e percebi que aqui usam a palavra mascarado para qualquer tipo de fantasia que se vista. Fontes me informaram que é melhor comprar a bebida antes de aportar por aquelas bandas, pois fica mais barato. Aliás, ir do Porto até Ovar de comboio custa apenas 1,80 euro por trecho, numa viagem de aproximadamente uma hora. Em alguns dos dias da semana de festa dispõem-se comboios em horários especiais, pois a maioria dos comboios portugueses funciona até às 23h.

Como não se tem a opção de desfilar de abadá, seguir trio elétrico ou apenas guerrear com aquelas espumas nojentas – estilo carnaval gaúcho – vamos à Ovar! E o frio que fique no Porto…

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Bem-vindo verão!

Mistura de profano e sacro, a festa de São João comemora a chegada do verão – no Hemisfério Norte, é claro. Não sei bem ao certo quando, mas com os cismas da Igreja Católica na Europa, que acabaram criando a religião anglicana e de Calvino, por exemplo, o Vaticano decidiu lincar comemorações profanas com datas importantes para os católicos.

Quem disse que Jesus nasceu em 25 de dezembro? A Igreja. Pois bem, adaptaram a data que coincide com outro solstício – de inverno no Hemisfério Norte. Enfim, São João e Natal têm muito em comum. Além de celebrarem o movimento do Sol entre os paralelos terrestres, anexam uma figura santa.

Aprendi nas aulas de Geografia da Europa que essa comemoração da chegada do verão permitia que as pessoas celebrassem da maneira que bem entendessem. Festa, bebida, mulher, música alta, brincadeiras, fogos de artifício. Bem diferente do São João brasileiro, onde se dança quadrilha, come-se pinhão, há casamento, prisão, quentão e a maior fogueira que se conseguir montar.

Aqui em Portugal, a festa começa na noite de 23 de junho. É dia da semana, e a maioria trabalha, mas ninguém liga. Vira-se a noite na rua, bebendo, dançando e tomando marteladas. Uma das tradições daqui é martelar aqueles que gostamos. Os martelos de plásticos estão em todos os lugares e custam entre 1,5 e 2,5 euros.

Também tem gente que sai com ramos enormes de alho, para esfregar nos outros. O galho tem mais de um metro, com algo que parece uma flor lilás na ponta de cima e uma cabeça de alho na extremidade de baixo. Até que não fede tanto, se não passarem na cara.

Teve festão na minha casa. Assamos sardinhas e pimentos verdes – como chamam pimentões aqui -, igualzinho à tradição. Depois, segui com o Karol, meu amigo polonês, até a Ribeira para vermos os fogos de artifício à meia noite. O Porto todo estava na rua. Não teve condições de descer a lombinha que leva até o rio, e estávamos atrasados. Subimos para a Catedral da Sé e achamos um cantinho lá para ver o espetáculo – ou parte dele.

Aqui soltam muitos balões de São João. Alguns pegam fogo e caem. Não vi nenhum incêndio, mas não quer dizer que não existiram. Ainda na Ribeira, ajudamos um balão que não queria decolar. Funcionou, e ele rumou para o rio Douro.

Depois andamos em direção à Foz. Marteladas na cabeça, música alta, muita bebida. Eu fazia cara de má e ameaçava aqueles que passavam. “Don’t make enemies, Fernanda”! Mas a gente tinha tática. Só batíamos em quem estava indo na direção oposta. O cansaço nos pegou e voltamos ao Piolho, barzinho no centro da cidade.

Eu “pedi pra sair” às 5 horas, pois não agüentava mais. Os meninos ainda arriscaram ir até a praia, pois estavam rolando shows lá, com dj’s famosos e tudo. Fiquei apenas pensando na sujeira que estaria a cidade na quarta-feira, 24. Que nada! Algum santo deve ter limpado tudo para evitar alguma possível enchente – coisa que não acontece por aqui – por causa da tonelada de garrafa e copos nos bueiros.

Restos da festa aqui em casa: sardinha crua e enfeites destruídos

Restos da festança aqui em casa: sardinha crua e enfeites juninos destruídos

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Queimando as fitas

Dizem por aí que a Queima das Fitas de Coimbras é melhor do que a do Porto. Não me encontro em condições de comparar, já que presenciei a festa só aqui pelo norte mesmo. A Queima ocorre todos os anos e é um evento universitário. Os finalistas – alunos do quarto ano das faculdades – queimam as fitas de seus cursos, como primeiro gesto em comemoração a graduação. O evento dura uma semana. Começa no domingo e vai até o sábado seguinte, e não se tem aulas enquanto isso!

Na terça-feira ocorre o cortejo. As ruas da cidade são fechadas para a passagem dos “carros alegóricos” e blocos. Parece carnaval. Eles gritam, bebem, pulam uns nos outros… Muitos trazem bebida de casa. Uma mistura de sangria com vodca. Enchem um galão de água de cinco litros, colocam em uma mochila e puxam uma mangueirinha para beber. O resultado é muita gente bêbada e caindo pelas calçadas às cinco da tarde. Uma das tradições é a cartola dos finalistas. Cada um deles também tem uma bengala e batem três vezes – às vezes, com bastante força – na cabeça um dos outros para dar sorte. Engraçado é ver nos carros reclamações sobre a falta de emprego, protestos políticos e contra o Bolonha.

Gritando pela Clérigos até de noite..

Gritando pela Clérigos até de noite..

O cortejo segue do Palácio de Cristal e vai até a Avenida dos Aliados. A bagunça deve acabar já de madrugada, e de lá todos seguem para a Queima das Fitas no Parque da Cidade. Duas linhas de autocarro gratuitas são disponibilizadas para levar a gente toda até o local. Um deles partia da paragem do Hospital São João e outro da própria Aliados.

Umas cem barraquinhas que vendem bebida e comida são montadas no Parque da Cidade. A ala norte é cercada, e ocorrem dois shows por noite no palco do evento. O ingresso para estudantes custa 7 euros por noite, com exceção da sexta, que sai por 8. Os demais pagam 13, mas a maioria é estudante mesmo.

Chegamos por volta da uma da manhã a tal quinta-feira de Queima das Fitas. Como dizem por aqui, foi fixe. Gostei de conhecer a tão famosa festa, que ouvia meus colegas portugueses comentarem sobre desde que aportei por aqui. Bebemos cerveja a 1 euro, comemos hamburger a 3 e viramos alguns copos de vodca a 1,5. Uma das barraquinhas mais animadas era a da Brasup, uma associação tipo ESN para estudantes brasileiros. Rolou funk, axé e o Rap das Armas – provavelmente a música que mais se ouve por aqui. Os estrangeiros adoram!

Além do palco – com shows horríveis -, havia uma tenda gigante com música eletrônica. Fiquei uma hora lá dentro e, quando sai, a música martelou meu cérebro por um bom tempo. A saída foi melhor que a chegada. Mesmo pagando o autocarro na ida, ele estava muito mais lotado do que o gratuito que pegamos na volta. Naquela noite, calculo que umas 50 mil pessoas tenham passado por lá. Foi até tumultuado para entrar, algo estranho para os padrões portugueses, mas blasè para mim.

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Viagem ao Sul

Cento e vinte Erasmus reunidos em uma viagem de quatro dias rumo ao sul de Portugal. O resultado da soma do fato com bebida liberada, música no último volume e pouca vontade de dormir não poderia ser diferente: A melhor viagem da minha vida!

Deixamos o Porto na quinta pela manhã. A primeira parada foi em Lisboa, onde conheci o Padrão dos Descobrimentos, a Torre de Belém – e esqueci de comer o tal do pastelzinho -, um Mosteiro – do qual roubei ameixas – e o rio Tejo. Me emocionei ao ver o largo onde fica o Padrão, pois já havia recebido um cartão postal de lá e foi muito legal conhecer o lugar pessoalmente.

Padrão dos Descobrimentos e ponte 25 de abril ao fundo

Padrão dos Descobrimentos e ponte 25 de abril ao fundo

A noite lisboeta é agitada. Lisboa tem pelo menos quatro vezes o número de habitantes do Porto. É gente de todos os lugares, afim de festa e bebedera. Fomos no Bairro Alto, tradicional por lá. Me lembrou a Lapa carioca misturada com uma Lima e Silva porto-alegrense, numa escala maior, é claro. Depois da festa, voltamos de táxi para o hostel, a Pousada da Juventude do centro da cidade.

Ao deixar a capital portuguesa, passamos pela Ponte Vasco da Gama, a maior da Europa. Com quase 18km de extensão, achei melhor do que a Rio-Niterói. É toda novinha, com arcos suspensos que lembram aquela ponte nova que construíram em São Paulo. Parece que não acaba nunca.. O Tejo é mesmo largo!

Na sexta passamos por Porto Côvo, uma prainha super simpática, com um clima de cidadezinha forasteira, aquelas que foram construídas há tempos, são pequenininhas e com um jetinho de abandonadas. O mar é gelado e rolaram discussões sobre se estaríamos no Mediterrâneo ou Atlântico. Por ficar na costa alentejana, é óbvio que se trata da parte norte do Atlântico. Enfim, admito que pensei que iria mergular no Mediterrâneo quando chegasse ao Algarve. Me surpreendi ao ver o mapa e descobrir que o estreito de Gibraltar fica na Espanha – muito embora eu já soubesse disso, falei besteira…

Depois de um dia de sol, viajamos umas duas horas e pouco até Albufeira, no Algarve. Lembrei da Madelaine, aquela menina inglesa que “sumiu” misteriosamente em algum praia da região. Albufeira é perfeita. Uma mistura de Florianópolis com Grécia. O mar é gelado, mas a areia é mais fofa. A orla é comprida e cheia de rochedos. Passei sete horas seguidas no sol e a noite voltamos a praia para um luau.

Não é o Mediterrâneo, mas, pelo menos, é o Atlântico do Norte!

Não é o Mediterrâneo, mas, pelo menos, é o Atlântico do Norte!

Depois da festa de sábado até às 8 e 30 da manhã de domingo, tomei coragem e entrei no mar com uns amigos tchecos e gregos. Gritei muito, pois estava congelando. Confesso, fiz um escandalosinho típico de nordestino que encara uma praia gaúcha nas férias. Muito embora a areia estivesse muito mais gelada do que a água, não curti o caldo que levei duma onda.

A volta foi triste, mas, ao mesmo tempo, aliviante. O corpo humano não aguenta muito mais do que três noites sem dormir. Passamos ainda por Évora, cidade que conheci muito mal, pois passei mais ou menos todo o tempo encostada no guarda-sol de um café tomando coca-cola.

Não sei o nome da Igreja, muito menos da fonte. Mas isso é Évora.

Não sei o nome da Igreja, muito menos da fonte. Mas isso é Évora.

Quando cruzamos a ponte Arrábida, na entrada do Porto, comemorei. Estava em casa novamente.

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Fogos

Chegamos atrasadinhos para o show que haveria na avenida Aliados. Era quase meia-noite e, enquanto descíamos a rua dos Clérigos, que é realmente um tanto inclinada, ouvimos os primeiros estrondos. Centenas de pombas voaram. Fiquei com medo que fosse “batizada” na cabeça ou nos ombros. Os estrondos não cessaram, e não entendíamos o porquê daquela barulhada toda. Só quando viramos a esquina da Clérigos com a Aliados que vimos os fogos de artifício.

Multicoloridos no céu, tinha para todos os gostos. Aqueles que sobem em espiral e caem num brilho curto, mas muito dourado. Vermelhos, azuis e verdes que se abrem como abajures. Fogos brancos, que iluminaram a noite portuguesa. Apesar do frio, a boca permaneceu aberta por um bocado de tempo e até consegui ensaiar uns pulinhos e/ou dancinhas no meio da rua. Aliás, os carros estavam proibidos de transitar por ali por causa da celebração.

O show comemorativo do 25 de abril iniciou às 22h. Não posso dizer que fiquei chateada por perder dancinhas de Fado e um coral português, pois foi mais interessante ver gente no Piolho – o bar universiátio mais famoso por aqui – antes de descer pra Baixa dos Aliados. No feriado de 25 de abril, os portugueses comemoram o fim da ditadura de 1974. O símbolo da festa é o cravo vermelho, e havia vendedores por todo o lado em meio à muvuca.

Assistimos aos cinco ou oito minutos de espetáculo – pois acho fogos de artifício uma das coisas mais lindas do mundo – e depois voltamos ao Piolho. Me senti como no Natal ou Ano Novo europeu. Um frio de rachar com muita gente reunida no meio da rua. Minha amiga porto-alegrense Josi registrou alguns momentos em seu telemóvel – pois esqueci de levar câmera, já que nem sabia que seria necessária. Valeu a pena passar um pouco de frio. Pelo menos vi fogos de artifício pela primeira vez na Europa.

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